Vacinação: poderia ser só de gotinha!!
- Fabiano Lucas Castro c/ colaboração do Dr Lourival
- 26 de abr. de 2017
- 7 min de leitura

Vacinação, só de ler a palavra já dá uma angústia em nós que somos pais! Afinal, vermos nossos filhos chorando sempre é muito difícil, levando uma agulhada então, poderiam ser 10 em nós e nenhuma neles e, diante de tanto sofrimento, a pergunta que sempre vem é: porque todas as vacinas não são somente de gotinha?
Meu filho mais velho está com 2 anos e 6 meses, então o próximo ciclo de vacinação será apenas com 4 anos de idade, com exceção das campanhas nacionais que por vezes surgem. Já não lembrava mais do quanto é sofrido levar nossos filhos para vacinar! Recordo-me que a Karla nunca entrava na sala de vacinação, pois ela dizia que iria chorar junto com o Lucas. Assim, sobrava sempre para mim esse sofrimento! Agora, tudo voltou com a nossa filha mais nova, que está com 3 meses e no meio do "furacão" das vacinações! Porém, mais do que nunca, tenho que aguentar e acompanhar todo o saudável sofrimento da nossa bebê!

Sofrimentos e angústias a parte, cabe a nós pais a responsabilidade e a consciência da super importância da imunização de nossos pequeninos que são tão indefesos! Aliado a toda essa dor que sentimos por eles, muitas dúvidas pairam sobre nossas cabeças quando o assunto é vacinação, principalmente em pais de primeira viagem.
E, para esclarecer algumas dessas dúvidas, estive conversando com o Dr. Lourival Rodrigues Marsola, que é médico infectologista (melhor especialidade para se falar de imunização) e Responsável Técnico da Clínica de Vacinação Prophylaxis.
Por que vacinar?
Dr. Lourival: As vacinas são consideradas um dos maiores avanços na saúde. Para se ter idéia, a vacinação juntamente com o saneamento básico são consideradas duas grandes e talvez, principais, estratégias implementadas nas últimas décadas capazes de reduzir a mortalidade infantil e melhorar a qualidade de vida da população.
A vacinação (imunização ativa) é um dos meios mais baratos e eficazes de prevenir doenças infecciosas graves. Desde a criação do Programa Expandido de Imunizações (PEI) da Organização Mundial de Saúde, os níveis de imunização com as seis vacinas infantis básicas - difteria, tosse convulsa (coqueluche), tétano, poliomielite, sarampo e tuberculose, subiram de 5% no início da década de 1980 para cerca de 80% em todo o mundo, atualmente.
Estima-se que a cada ano são evitadas pelo menos 2,7 milhões de mortes por sarampo, tétano neonatal e coqueluche e 200.000 de casos de paralisia por poliomielite. A utilização generalizada das vacinas oferece a possibilidade de controlar e até erradicar algumas doenças, como aconteceu com a varíola. Nas Américas, foi também possível a erradicação da poliomielite e nos Estados Unidos a quase eliminação da rubéola congénita, tétano e difteria, além de uma redução acentuada da coqueluche, rubéola, sarampo, parotidite (papeira) e meningite por Haemophilus influenzae tipo B.
As vacinas são substâncias preparadas à base de proteínas, toxinas, partes de bactérias ou vírus, ou mesmo vírus e bactérias inteiros ( Atenuados ou mortos). Eles agem diretamente no sistema imunológico, prevenindo o surgimento de determinadas doenças.
Ao se vacinar, o organismo, através do estímulo à produção de anticorpos estabelece defesas contra agentes infecciosos causadores de doenças.
As vacinas permitem que o sistema imunológico de uma pessoa imunizada, quando exposto a microorganismos, reconheça estes microorganismos e produza de forma rápida e eficaz uma resposta de defesa capaz de eliminar estes germes evitando assim que a doença ocorra.
Quais os riscos de se deixar de fazer alguma vacina?
Dr. Lourival: A criança quando nasce traz consigo alguns anticorpos da mãe (passados pela placenta) que são capazes de protegê-la contra algumas doenças por um tempo. Entretanto, estes anticorpos reduzem com o tempo e não são capazes de evitar muitas doenças nas crianças.
Quando a criança deixa de ser vacinada contra alguma doença infecciosa ela corre o risco de entrar em contato com alguém portador de uma doença contagiosa ou mesmo entrar em contato com germes ambientais e desenvolver doença grave. Antes da massificação dos programas de vacinação na infância, a mortalidade infantil (em menores de 1 ano) era muito elevada e doenças como diarreia (rotavírus) ou mesmo o sarampo costumavam fazer milhões de vítimas pelo mundo.

Algumas vacinas são feitas em conjunto, as vezes, 3 no mesmo dia. Há realmente essa necessidade ou podem ser alternadas?
Dr. Lourival: Os 12 primeiros meses de vida são os de maiores riscos ao bebê. É quando ele entra em contato com muitas doenças ainda frequentes e que podem inclusive ocasionar a morte.
É muito importante que nos meses iniciais de vida da criança sejam administradas as vacinas para proteger das enfermidades mais comuns nesta faixa etária e que no passado habitualmente eram responsáveis pelas altas taxas de mortalidade em menores de 1 ano.
Muitos pais ficam preocupados com a quantidade de vacinas administradas a partir dos 2 meses de vida. Para o bebê, este número de doses apenas trará benefícios, pois em hipótese alguma existe memória por parte da criança sobre a vacinação realizada (a dor). Ao contrário, retardar as vacinas por “medo” ou mesmo receio às reações é muito arriscado, pois quanto mais demorar o período para completa a vacinação mais risco a criança corre de adoecer. E com certeza, uma criança doente e internada trará muito mais sofrimento a todos.
Se o bebê fizer apenas uma dose de vacina já estará imunizado ou são necessárias todas as doses?
Dr. Lourival: Muito importante falarmos sobre isto. Lembrem que as vacinas possuem a eficácia descrita em trabalhos científicos ou mesmo na prática clínica com o número de doses recomendadas. Toda vez que se deixa de realizar uma dose de qualquer vacina, a eficácia da proteção diminui e a criança poderá adoecer.
Se passar o período recomendado da vacina, essa pode ser feita posteriormente?
Dr. Lourival: Sim. Mesmo quando atrasada, as doses precisam ser realizadas. Algumas vacinas terão limite de faixa etária ou mesmo mudarão seu esquema dependendo do atraso do inicio ou da complementação do esquema.
Há algum cuidado que deve ser tomado antes e depois da vacina, como o uso de medicações para evitar reações?
Dr. Lourival: Na hora da vacinação, os pais ou a pessoa sendo vacinada deve ser orientada quanto as reações possíveis (geralmente, as mais frequentes) e como proceder. Na Prophylaxis Belém faz parte do Protocolo de Atendimento ao Cliente prestar orientações e esclarecimentos sobre as possíveis reações bem como proceder para evita-las ou minimizá-las.
Normalmente, compressas geladas ajudam a reduzir a dor e a vermelhidão no local. Para crianças menores, orientamos sempre fornecer o analgésico habitualmente prescrito a criança já que pode ocorrer irritabilidade devido a dor local.
Outra orientação sempre muito importante é que ao surgir sintomas como febre, o médico deverá ser procurado para confirmar que se trata de uma reação vacinal.
Se a criança estiver gripada pode vacinar?
Dr. Lourival: Aqui é importante definirmos que Gripe é diferente de resfriado. A gripe é uma doença grave causada pelo Vírus Influenza e costuma causar uma doença mais intensa. O resfriado costuma ser mais leve e, geralmente, causa febrícula, espirros, mal estar e tosse seca ou dor de garganta.
As doenças que costumam contraindicar vacinação são aquelas ditas graves. Geralmente, precisamos avaliar a criança e a vacina a ser administrada, pois em situações, por exemplo, de surtos não poderíamos retardar uma vacina. Mas em uma situação de rotina com o calendário de vacinação atualizado, minha opinião é de que, forma consensual com os pais a vacina seja adiada por 1 a 2 semanas.
Quando levamos uma criança para vacinar, é importante que ela esteja em jejum ou pode estar alimentada, como, por exemplo, após ser amamentada?
Dr. Lourival: A única vacina que não deve ser feita com a criança após ter sido amamentada (estômago cheio) é aquela contra o Rotavírus, pois corre o risco dela vomitar logo após ter sido vacinada já que esta vacina é de apresentação oral (gotas)
Há alguma problema de oferecer a mama após a vacina? Mesmo as orais?
Dr. Lourival: Não. Poderá ser dada após 15 minutos da vacina oral.
Quais vacinas podem provocar alergia no bebê e quais os cuidados para que isso não aconteça?
Dr. Lourival: Alergia se refere a ter incompatibilidade com algum componente da vacina (pode ser o diluente ou mesmo a produtos utilizados na sua produção como é o caso do ovo).
Apenas as alergias graves contraindicam vacinas. Se isto for sabido, a vacina específica não deve ser realizada. Pessoas que fizeram alguma vacina e relatam alergia a ela, deve-se evitar esta mesma vacina.
É comum a alergia do ovo ser relatada como contraindicação a vacinação. Muito cuidado aqui, pois caso de fato haja alergia grave ao ovo que contraindique vacinas, a criança deixará de receber importantes vacinas como do sarampo e da gripe.
Com que idade ou após que vacinas seria seguro que os pais frequentassem locais públicos com o bebê?
Dr. Lourival: Toda criança pequena antes dos seis meses tem risco de entrar em contato com doenças transmitidas de pessoa a pessoa e desenvolvê-las. Criança pequena não é para ficar circulando com pais em áreas de grande circulação pelo risco de aquisição de resfriados, gripe, coqueluche, rubéola, etc.
Lembramos que muitas vezes as fontes de contágio de doenças infecciosas aos bebês são os próprios pais, tios, avós e cuidadores. Por isto, na Prophylaxis Belém temos uma estratégica chamada de Estratégia Casulo que recomendamos que pais, avós, tios e cuidadores estejam vacinados contra coqueluche e gripe.
No caso da gripe isto é super importante, pois a criança somente poderá tomar a primeira dose da vacina contra gripe aos seis meses de vida e até lá, cuidadores e parentes poderão levar o vírus até o bebê.
Na Prophylaxis oferecemos o Serviço de Vacina em Casa com a finalidade de levar a vacina até o bebê e, assim, não permitir que ele seja exposto a contaminantes infecciosos nas áreas de circulação de pessoas.
E adultos, também devem ser vacinados?
Dr. Lourival: Sim. Vacinação deixou de ser coisa de criança há muito tempo. Muitos adultos adoecem por deixar de tomarem suas doses de reforço contra várias doenças como no caso do tétano ou mesmo por nunca terem tomado nenhuma dose da vacina como no caso das meningites.

Sobre HPV. Por que é importante as meninas vacinarem?
Dr. Lourival: Na verdade, a vacinação contra o HPV hoje se refere a proteção contra o câncer. Cada ano aumenta o número de canceres associados a este vírus. Já sabemos sobre câncer do colo do útero, pênis, reto, ânus, pescoço, boca, etc. Por isso, a partir dos nove anos de idade, meninos e meninas devem ser vacinadas contra o HPV. Logo, a necessidade e importância da vacinação contra o HPV deverá ser iniciada ainda pelo médico pediatra.

Dr. Lourival Rodrigues Marsola
Médico Infectologista
Mestre em Clínica das Doenças Tropicais
Responsável Técnico da Clínica de Vacinação Prophylaxis

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